SOU ROSA
Vagando pelas brumas silenciosas nos profundos interstícios do meu ser,
descobri-me parte do mundo: a natureza.
Sou Rosa. Minha beleza é imperceptível, o que
nela é belo e atrai os viventes, em mim está n’alma, onde posso constatar
beleza inefável, prazer absoluto ou tristeza profunda.
Sou Rosa fúnebre ,
acompanhando o final de um sonho, findou o último sopro, e a vida posta em flor
sobre o féretro perderá o viço, a cor, a beleza e, apercebo não distante desse
instante de dor, outros seres presentes, esvoaçando pétalas negras, são zumbis,
vivos de almas mortas, companheiros das aves da noite com asas de horror, que
ao voejar caem, pois perderam a essência da vida: os sonhos...
Sou Rosa dos ventos, tempestuosa como as
paixões, provoco vendavais indomáveis, desordenando a ordem das coisas, que no
rastro dos meus furacões, circundei vivências e ao longo da vida tornei-me
brisa, sensação leve, acima do bem e do mal, como botão em flor, com olhos de
criança, visualizando esperança no coração dos mortais após a destruição de
outros vendavais.
Sou Rosa mártir, incansável
na labuta contra as injustiças e homens vis
desfigurados pelo ideal do poder que destrói, homens sem alma, agarrados
ao materialismo impenitente, apenas por um minuto lacônico de prazer , que tem
como poderosa arma de destruição a palavra infame.
Sou Rosa
dos mares, pérola dos oceanos, guardando
os mistérios da
existência desses seres, com pétalas ao mar
saboreando gotas salgadas ao concerto sedutor
das sereias, abrindo as portas da travessia da vida, acalentando a
sensação tranquila das águas ao rebento, emoldurando a visão excelsa da lua e
seus reflexos em prata, retratados nas ondas do mar.
Sou Rosa das montanhas, enlevada pela busca
sinuosa dos caminhos íngremes conquistados, o sempre querer mais, que na
procura, busca a sabedoria que não dará
resposta exata para não morrer jamais, orvalhando a luz cintilante das
estrelas nas inquietações da alma.
Sou Rosa vermelha, a efêmera volúpia do
desejo humano, e no sonho dos caminhantes posso dar prazer por um momento que,
egocêntricos pela plenitude do instante, considera como leme da vida a luxuria,
que lapida a alma dos inconstantes.
Sou Rosa azul, rosa dos mistérios, da cobiça
ilimitada pela sua beleza ímpar, instigando o homem na busca intransponível do
legado humano, a imitação de Deus, buscando a perfeição inatingível.
Sou Rosa branca, cor da lua, sem mácula,
habitando os jardins dos mortais de coração puro, lançando-me naqueles que
estão presos pela dor, tristeza ou desespero, entregando a todos: tranqüilidade,
amor e liberdade, sonhando em alastrar o mundo com a paz..
Sou apenas Rosa, amante da vida, vivo o instante,
que embriagada com o próprio perfume, ofereço aos que me colhem sonhos e
poesias e, quando enfim despetalar, deleitar-me-ei nos braços do Criador.
ELIENE CRISTINA